NOSSOS CHEFS
Gema Soto
Venezuela
“No meu Estado se fabricam queijos únicos da região fronteiriça da Guiana, Suriname, Guiana Francesa e Brasil, como o queso Guayanés, assim como são chamadas as pessoas que nascem por lá”.
Atraída pela atmosfera poética do cômodo mais importante de sua casa, em Ciudad Bolívar, na Venezuela, Gema se interessou pela culinária ao vivenciar a vida acontecendo dentro da cozinha, um lugar permeado pelo aroma dos temperos, da rapadura e das laranjas descascadas pela mãe e avós de sua família, e onde, como conta, aconteciam as melhores conversas e reuniões familiares, além das reprimendas e conselhos dados às crianças que, como ela, brincavam ao redor do forno à lenha. As matriarcas da família são uma grande inspiração, mulheres que, segundo ela, trabalhavam em casas de família e mesmo sem estudo formal, eram capazes de reproduzir receitas sofisticadas “de olho”. E é essa familiaridade que ela busca passar em seus preparos, que levam mandioca, queijo, milho, rapadura, entre outros ingredientes que ajudam a contar a história da sua terra natal. Sua cidade, capital do Estado Bolívar, faz fronteira com a Guiana, Suriname, Guiana Francesa e Brasil e é um importante ponto comercial da bacia do rio Orinoco, principal curso d'água da Venezuela, que nos meses de agosto faz uma feira para comemorar a chegada do Sapoara, peixe nativo da região. Foi em uma dessas feiras, inclusive, que Gema conheceu o marido. A música também é importante para seu povo, que tem no calipso, ritmo herdado dos escravos africanos, um som tão emblemático quanto o samba para os brasileiros. E se na gastronomia cada venezuelano tem uma arepa para chamar de sua, a de Gema é a Arepita Dulce, que difere das outras receitas de seu país pela massa semi-doce, amassada bem fininha com erva-doce antes de ser frita e servida com queijo fresco ralado, de preferência, Telita ou Guayanés – o mais famoso do Estado Bolívar –, macio, feito com leite de vaca e com um toque levemente salgado.